jueves, 29 de marzo de 2007

Um líder chamado

“Somos culpados dos sofrimentos dos pobres se não fizermos tudo o que está nas nossas mãos”
“Não pode haver caridade se não acompanhada da Justiça”
“O Filho de Deus fez-se homem não só para que nós nos salvemos, mas também par que com Ele sejamos salvadores”.
“A Igreja é como uma grande seara que necessita obreiros, mas obreiros que trabalhem. Não há nada tão conforme com o Evangelho como pegar de um lado luz e força para a alma na oração, a leitura e o retiro, e, por outro lado, ir logo a participar aos demais deste alimento espiritual. É isso o que fez o nosso Senhor e, após dele, os seus Apóstolos.

INTRODUCÇÃO

Durante os últimos anos que estive na missão de Chongoene em Mozambique, teve a oportunidade de acompanhar alguns grupos de Família Vicentina, as Voluntárias Vicentina e a Sociedade de São Vicente de Paulo, para além do grupo de Vocacionados vicentinos. Para alguns temas de formação pegávamos as publicações do Tambor (revista da família Vicentina da Viceprovíncia). Mas sempre notamos a falta de um material que ajudara a aprofundar os temas da vida, obra e espírito de São Vicente de Paulo.
Quando o seminarista Israel Alba esteve a fazer estagio em 2003, fez uma série de temas para a formação da SSVP, e em Dezembro de 2006, recebi a publicação No 19, dos FOLLETOS MISIÓN XXI, obra do Pe. Honório López dm., da Província de México. E logo teve a ideia de o traduzir ao português, como um aporte para a formação dos nossos leigos e vocacionados na Viceprovincia de Moçambique.

Ciente de que não tenho o domínio da língua portuguesa, e de que nesta tradução haverá muitos erros. Pe. Honório, peço desculpas pelo meu atrevimento.

Espero ajuda do Pe. José Luís, Reitor do Seminário Gebra Miguel em Matola, para uma revisão.

UM JOVEM PARA O NOSSO TEMPO


Existem pessoas que nunca chegam a ser jovens. Há outras que nunca deixam de o ser. Há pessoas que tal vez desde os quinze anos, vivem encerrados nas velhas tocas do medo e do egoísmo. Arrastam os pés como indecisos reformados. Nem têm sonhos nem caminham para horizontes em desafio, de ilusão e mudança. Não se interessam por nada. Parece como si estivessem molestos de tudo. Só alimentam-se com anúncio baratos da televisão e as faladurias dos vizinhos.
Há outras pessoas de muitos ou poucos anos, que nunca deixam de ser jovens. Poderão ter falecido há muitos anos, mas seguem-nos falando, desafiando, com os seus sonhos e as suas obras. VICENTE DE PAULO, por exemplo, é um dos homens mais jovens da história. A sua vida e a sua obra são um desafio, o seu espírito é uma enorme montanha de contagioso amor a ferver.
Ali está e ali segue como um gigante que nos convida a subir às suas obras e aos seus ombros, para ver a vida de outra maneira e para a viver em compromisso apaixonado.
Este livro de COLECÇÃO MISSÃO XXI é especial, é uma breve biografia de São Vicente de Paulo e está dedicado aos e às jovens que desejam conhece-lo e buscam um material acessível e de rápida leitura. Também está dedicado a quem fora dos anos da juventude, conserva o coração, os sonhos e o desejo de corajoso compromisso. Vicente de Paulo continua ser um modelo, um animador e um visionário também para os nossos dias. A sua forma de amar a Jesus Cristo e de amar às vítimas é totalmente actual e continua a dizer-nos: “vamos e ocupemo-nos com um amor novo no serviço dos pobres; busquemos inclusive até os mais pobres e abandonados. Reconheçamos diante de Deus que eles são os nossos amos e os nossos patrões e que somos indignos de lhe oferecer os nossos humildes serviços”. Ele, Vicente fê-lo assim. E não fala de teorias mas da pratica experimentada por ele mesmo.
Por ser só uma simples introdução biográfica, este livro não faz anotações referentes às datas e citas que aqui aparecem. Os jovens não têm à mão os muitos tomos de cartas e conferências de são Vicente. Mas quem chega a ama-lo buscam conhece-lo melhor para entrara a formar parte dos seus entusiasmados seguidores.
Jesus Cristo é o Missionário do Pai e nós estamos chamados a ser os missionários de Jesus Cristo. Os pobres esperam que nos ponhamos ao ser lado, mas têm muitas urgências . Poderemos atrasar para sempre a nossa resposta?

1.“NÃO SEI, NÃO POSSO, NÃO TENHO TEMPO”

Vicente de Paulo –como tu ou como eu – poderia ter-se dispensado, cheio de medo detrás destes assaltantes da vida: o não sei; o não posso e o não tenho tempo ou o não me interessa. Mas não se deixou dominar deles e os venceu.
Se não sei, apreendo, estudo, formo-me e reflexiono as experiências próprias e alheias. Se não consigo, vou amar mais para conseguir ir mais além, porque o amor é inventivo até o infinito. Se não tenho tempo tira-lo-ei de abaixo das pedras. Se não me interessam os outros será porque sou um velho sem ilusões. E não vou ser assim, não quero ser assim. E a única forma de derrotar este paralítico é pondo-me ao serviço dos que mais necessitam de mim. Eles esperam-me como uma casa em chamas necessita que alguém vá a libertar aos nela encerrados, como um ferido precisa de ajuda e medicinas, como um menino necessita de amor e de escola para se desenvolver, como um oprimido necessita de libertação urgente, como um cego necessita da boa notícia da luz melhor para a sua vida. Me interessa isto, apaixona-me, e, por isso, sei, posso e encontrarei o tempo.
Kevin Carter ganhou, faz alguns anos o famoso prémio Pulitzer de fotografia. A sua máquina captou num instante, a terrível realidade do homem e a desgraça entre os pobres de Sudão da guerra civil. Na fotografia vê-se uma criança, de pele escura, ferido a gatinhar num campo sozinho a procura de qualquer alimento. Detrás da criança um abutre espera a sua morte para comer os fracos ossos da criança... Três meses depois de ter tirado esta fotografia, Kevin Carter, suicidou-se, sumido numa profunda depressão. Não o julguemos. Quem somos para o fazer?. Qualquer pode enfermar-se. Vicente de Paul em circunstâncias parecidas na França do seu tempo, não se deixou deprimir, não se suicidou, pois com morrer-se não remedia nada. Pôs-se a trabalhar para remediara a dor dos pobres e organizou a milhares de pessoas para que deram o seu amor, o seu tempo e os seus bens e a sua activa solidariedade para o bem das vitimas da guerra, da fome, da ignorância e da injustiça.

2 TAMBÉM ELE NÃO NASCEU SANTO


Ninguém nasce santo. Ninguém nasce seguidor de Jesus Cristo. Ninguém nasce com um belo projecto debaixo do braço. Depois ao longo da vida, uns pegam-no e outros deixam-no. Uns dizem SIM, e outros perdem tempo à sombra dos seus pretextos.

Vicente de Paulo nasceu em Abril de 1581. O Seu Pai chamava-se João e a sua mãe Bertranda. Eram em total seis irmãos. Cultivavam o campo e pastoreavam o gado. Não experimentaram a miséria extrema. Mas sim a dura pobreza e pesados trabalhos. Vicente teve a sorte de poder estudar. Na França do seu tempo a maioria da gente não sabia ler nem escrever. Vicente era um adolescente solidário, reflexivo e inteligente. Mas rapidamente em quanto estudava em Dax. Teve de ajudar a outros alunos menores dando aulas para ajudar economicamente com os seus próprios estudos.
Desde estes primeiros anos será activo trabalhador e formador de pessoas, e assim será ao longo de toda a sua vida.
João o seu pai era um pouco coxo e com aspecto de camponês desarranjado. Vicente, ainda adolescente se envergonhou várias vezes do seu pai, quando este ia visitá-lo ao Liceu. Dizia-mos que ninguém nasce santo. E perante a “o quê dirão os de mais”, Vicente deixou-se levar pelos seus complexos e pela sua ingratidão. Mais tarde arrepender-se-á e curar-se-á dos vírus desta enfermidade.
Mais tarde, depois dos seus estudos na Universidade de Toulouse, e quando ainda era muito jovem para o fazer, Vicente se ordenou de sacerdote. Era o ano de 1600. Mas a ordenação também não faz santo a ninguém e menos ainda se a receber de qualquer maneira. E Vicente nestes anos, pensava mais em si mesmo que em evangelizar aos pobres. Não nasceu santo e ainda não o era. Ele tinha um projecto centrado em si mesmo. Como a sua família era pobre, desejava melhorar a situação dos seus. E queria para si uma vida tranquila e em segurança. Para conseguir este o seu projecto, não o projecto que Deus tinha para ele, gastou vários anos da sua vida. Dedicou-se corajosamente, pondo em prática a sua imaginação, as suas influencias e todas as suas capacidades.
Ainda nesta etapa egocêntrica Vicente é um jovem interessante, pois um homem com um projecto para a sua vida causa paixão e curiosidade. Não é passivo, nem se encosta nos outros, não é um parasita, nem um desinteressado. Vá, vem, luta, viaja, inverte tudo o que possui e que pede emprestado. Roma, Burdeus, Marsella, Paris... longas viagens nos carros da época e em apertadas barcas com o objectivo de conseguir um posto que lhe desse benefícios económicos e prestigio social. Desejava ser alguém numa sociedade que só sabe valorar a quem tem e não a quem é. Nestes caminhos anda Vicente estes anos da sua vida por volta do seu ego. Mas o Senhor é paciente, espera para nos fazer bem e para nos fazer bons. E espera uma resposta corajosa e generosa. Vicente lhe respondera? E nós?

3. O FRACASSO É UM ANJO SEM DUPLA FACE

A amorosa Providência de Deus teve de empregar-se a fundo a fim de que Vicente descera do seu próprio projecto egoísta e compreendera a sua vida de outra maneira e com outro propósito. E para isso deixo-o ir de fracasso em fracasso. Vicente carregou-se de dividas e nada conseguiu. Nem Roma, nem Marsella, nem Paris responderam aos seus pedidos. E há uma carta sua de 1607, em que conta-nos o pior. Foi feito prisioneiro por uns piratas e levado preso a Tunes. Esta escravidão é imagem e símbolo da sua situação interior. Ali soube o que significa ser escravo, maltratado, dependente e pobre. Mas ali também experimentou a verdade, a força e consolação da fé cristã. E ajudado por um renegado arrependido, conseguiu sair da escravatura de Tunes.
“Não podemos segurar melhor a nossa salvação que vivendo e morrendo ao serviço dos pobres” (São Vicente de Paulo)
O fracasso é um anjo sem caretas. Fala-nos uma linguagem directa, não mascarado, palavras que doem. Mas nem sem o compreendemos à primeira. De Facto Vicente vota a Roma. Ali encontramo-lo em 1608, e ainda espera que os grandes lhe dêem migalhas e o amparem com as suas influências. Também não o consegue. Depois vaia Paris, e desde ali ainda escreve à sua mãe em 1610 falando-lhe de um “honesto retiro”, ou dito de outra forma, da sua instalação na mediocridade. Ainda precisa de mais provas, de mais fracassos para acordar. E as próximas experiências tocar-lho-ão no mais vivo. Primeiro, será falsa e publicamente acusado de ladrão e, em segundo lugar passará um calvário de tentações contra a fé. Se antes foi despojado do triunfo externo, agora o será do prestigio social e da segurança da fé que nos sustêm. Mas Vicente nestes anos ainda não em sido um desonesto. A oração, o amor ao Senhor e à Santíssima Virgem Maria, lhe sustinham e lhe faziam cantar no meio da escravidão de Tunes. Em Roma, ao percorrer os passos dos antigos mártires cristãos, se lhe enternecia o seu coração o arrependimento lhe aflorava nos olhos em forma de lágrimas. Em Paris como mendigo da ex-rainha Margarida, experimentou a compaixão cristã com os pobres, essa que consiste em padecer com eles e ajudar-lhos. Vicente nunca foi um homem superficial. Agora perante a acusação de roubo, não se defendeu, “diz-se, elevando-se a Deus, é preciso o sofra com paciência, Deus sabe a verdade”. Vicente tinha no meio de tudo, coragem cristão. Só que precisava descobrir através dos fracassos, às distintas alturas era chamado.
E lhe chegou a prova mais longa e dura: a noite da fé. Duvidar, duvidar e duvidar, como uma obsessão, como um pesadelo, como um esfomeado rato metido no cérebro e não parara de nos morder as neuronas da fé. Quem sou? Em que se fundamenta a minha fé? Quê sentido tem Jesus Cristo para mim? Deus, ama-me, espera-me há vida eterna? E Vicente reagiu perante esta terrível tentação com mais oração e mais súplicas, com actos de penitência e obras de caridade e chegou a cozer-se o credo sobre a roupa para que o só gesto de o tocar com a mão fosse para ele como uma vivia confissão de fé. Mas era isto, tudo o que Deus esperava dele? A fé não é uma propriedade privada, dá-se-nos para a compartir, como pão e como Evangelho, como Justiça e como vida em favor dos outros. Vicente, atrever-te-ás a dar este passo?

4. AS SEMENTES DA PRIMAVERA

Há gente que perante os fracassos ampara-se nas desculpas e em culpar aos demais. Se fracasso nos estudos a culpa é dos professores, da escola, da sociedade. Se tenho lutas na família e escuras relações, a culpa é dos demais. Se os outros sofrem fome, pobreza e desamor, a culpa é deles, mas de nenhuma forma é minha.
Há gente e podemos ser nós mesmos que não decifra os signos da vida, só os sofre sem os aproveitar. Ou, em lugar de tomar a vida nas mãos refugiam-se em um grupo de amigos de má vida para não tomar as próprias decisões. Vicente não de esta classe de pessoas. Soube escutar no meio do sem fim de fracassos uma voz que o chamava a entregar-se. E deu um passo ao frente, um passo definitivo. O seu primeiro biografo contou-nos esta decisão de Vicente perante à tentação da fé: “Para honrar Jesus Cristo, tomou a firme e inviolável resolução de entregar toda a sua vida, pelo Seu amor, ao serviço dos pobres”. A partir de esse momento o seu coração começou a experimentar o que é isso da liberdade e as verdades da fé trocaram-se em segurança e claridade. Ao serviço dos pobres por amor a Jesus Cristo! Quando a fé põe-se em prática, as suas verdades brilham, quando não se vive escurecem-se. Mas eis aqui as duas sementes fecundas da primavera da fé de Vicente. Jesus Cristo e os pobres. Os pobres em Jesus Cristo e ele neles.

5. AJUDA DE COMPANHEIROS NÃO DOMESTICADOS


Temos que relacionar-nos como todos e aprender de todos. Mas uma das decisões mais inteligentes da vida consiste em resolver quens são os meus amigos, com quem juntar-me, a quem lhe falo dos meus problemas confidências. Vicente também foi inteligente nisto. Começou a buscar ajuda nas pessoas não vendidas ao cabritismo nem domesticadas na corrupção. Gente com ideias e horizontes. Pessoas que ainda nas limitações lutam corajosamente por levar uma vida autentica e por entregar-se a Jesus Cristo. Os “amigos” capazes de levar-nos na insensatez e preguiça são inumeráveis. Os amigos dispostos a levar-nos à superação, ao sacrifício e a entrega, são poucos. É necessário buscar-lhos. Vicente Fê-lo com cuidado. Assim apareceu na sua vida o espiritual Pedro Berulle, preocupado pela renovação da vida dos sacerdotes; o Pe, Duval, Doutor da Sorbona , homem sábio simples e apostólico e que foi confessor de Vicente por muitos anos; são Francisco de Sales , a quem Vicente chegou a admirar de coração e de quem recebeu profundas e amplas influências. Estes companheiros lhe animaram a tomar outra das decisões importantes da sua vida: a ler, mas não qualquer coisa, mas aquelas obras e livros que são capazes de nos entusiasmar para o melhor, de alimentar a nossa fé e de nos animar no compromisso com os demais. De facto, há nas conferências que nos tem chegado de São Vicente não poucas influências de suas leituras. Vicente, tinha um dom especial para aproveitar o melhor que os demais lhe poderiam oferecer e um espírito aberto para escutar e aprender, e para num momento determinado, deixar aquilo, ainda dos melhores amigos, que não lhe servisse para os eu projecto actual de servir aos pobres e de o ler tudo desde as suas necessidades e feridas.

6. CLICHY: UM SORVO DE GOZO PASTORAL

Até agora não temos visto a Vicente de Paulo no exercício do seu ministério sacerdotal ao serviço do povo. Agora em 1612, e por mediação de Berulle, chega como Pároco de Clichy, um povo pequeno, vizinho de Paris e de uns seiscentos fieis. E Vicente abre sobre eles a sua enorme capacidade de contágio e de renovação cristã. Evangeliza em tudo o tempo, cuida a catequese, melhora os edifícios paroquiais, visita assiduamente aos enfermos, entrega-se aos pobres e busca recursos para os ajudar, celebra funda e belamente os mistérios sacramentais. Além disso, é especialmente amigo dos jovens da paroquia e, entre eles, organiza e anima um grupo juvenil com sinais de vocação sacerdotal. Um destes jovens chamava-se António Portail. Chegaria a ordenar-se de sacerdote e ser companheiro de Vicente até a velhice de ambos os dois. Um dia o Cardeal de paris perguntou-lhe como se sentia Clichy. Estou tão contente, Senhor, -respondeu-lhe – que nem sou capaz de o explicar. Tenho um povo tão bom que me parece que nem o Santo Padre, nem Você, são tão felizes como eu”. E nos últimos anos da sua vida ainda lembrava aos seus companheiros de Congregação, a sua felicidade naquele povo. Também os habitantes de Clichy lembra riam-no toda a sua vida. Com este sorvo de gozo pastoral, Vicente ia descobrindo, urgido pelas necessidades do povo, as suas melhores capacidades para criar respostas obedientes.

7. A CASA DOS GONDÍ, JAULA E TRAMPOLIM

Nos fins de 1613, por indicações do seu amigo e conselheiro Berulle, Vicente teve de deixar Clichy para ir como preceptor ou mestre dos filhos dos Gondi, ao Palácio destes em Paris. Os Gondi constituíam uma das famílias mais ricas, nobres e influentes do reino da França. Ele chamava-se Felipe Manuel de Gondi, ela Margarita de Silly. Ele era o geral da armada das galeras do reino, além de outras muitas mais tarefas e títulos. Ela além do seu título de nobreza, “era –como chegou a dizer Vicente- a pessoa mais simples que jamais tenho conhecido”.
Vicente tinha a experiência de hábil preceptor desde os tempos de estudante em Dax e Toulouse. Entendia-se bem com as crianças e os jovens. Tinha carisma de educador. E eles gostavam dele. Mas na casa dos Gondi as tarefas do Sr. Vicente foram-se acrescentando como as ramas de uma árvore. Mestre dos filhos mais velhos da família, director de consciência dos senhores de Gondi – especialmente de Margarida que cada dia o valorava mais – capelão, pastor e animador da vida cristã dos criados e ajudantes da família e das várias populações dos Gondi. O se trabalho era cada ano mais amplo, mais intenso e mais virado à evangelização dos pobres. E os Gondi eram agradecidos com o Sr. Vicente e afanavam-se em preenche-lho de encomendas e benefícios. Mas o antigo Vicente, com anseios de prestígios e bens, tinha-se ido transformando aos poucos e era já nestes dias, um homem desprendido e um apaixonado de Jesus Cristo e da sorte dos pobres das aldeias. Já não perseguia sombras, estava na luz. E a casa dos Gondi ia-se ficando pequena, e sentia que não era bom deixar-se enjaular (encerrar) nela. Tinha sido um tempo de eficazes labores, mas sentia que o Senhor o requeria para outros horizontes.

8. A ESCAPADA A CHATILHÃO-LES-DOMBES

Longe, em Lyão, tinha uma paroquia muito necessitada, chamada Chatilhão-les-Dombes. Nova mente por meio de Berulle, ofereceram-na a Vicente. Era a Quaresma de 1617. E escapou-se lá sem comunicar aos Gondi os seus propósitos. Sabia ele, que se o comunicava, não iam deixa-lo marchar-se; tanto lhe estimavam e necessitavam. Os Gondi ficaram desolados ao notar a sua ausência. O geral, de viagem, naqueles dias, escreveu à sua esposa: “Rogo-vos que impeçais por todos os meios que o percamos”. Margarida Dizia: “Jamais tinha-me imaginado uma coisa assim. Eu não acuso de nada, claro que não; estou convencida de que tudo o tem feito por um especial desígnio de Deus e mexido pelo seu santo amor”.
Margarida era uma mulher afectiva, escrupulosa, desprendida, mas tinha fina sensibilidade cristã, conhecia ao seu director e sabia que a sua fugida não era um capricho.
Seis meses depois, após receber pressões de uns e de outros, e de o consultar com os seus conselheiros espirituais, o Sr. Vicente regressou em Natal com os Gondi, mas já não era para dedicar-se principalmente a eles, mas com uma total liberdade para entregar-se à evangelização e ao serviço dos pobres do campo.
Tinham passado só seis meses em Chatilhõa, mas a sua actividade naquele povo de católicos e protestantes relaxados foi como o eficaz ensaio geral do que faria o resto da sua vida, daquilo para o que Deus o tinha preparado. Evangelização, caridade organizada e reforma do Clero. Também os habitantes de Chatilhão não esqueceriam o fogo apaixonado do Sr. Vicente. Eles além disso tinham respondido transformando-se. Alguns dos convertido mais activos com o Conde de Rouguemont ou como as primeiras Voluntárias da Caridade darão muitos frutos nos anos seguintes.

9. QUATRO PERGUNTAS PARA O SR. VICENTE.


Com frequência escutamos tantas palavras, que não temos ouvido para a Palavra de Deus. Mas ele fala-nos de muitas formas, especialmente desde as feridas dos necessitados e das vítimas. Uns estão bem entretidos com o seu próprio ego que não O ouvem; outros O ouvem mas tem medo despojar-se, e não respondem; outros O ouvem e O escutam e respondem coma vida. É então quando são de verdade eles mesmos, segundo Deus lhes vá amostrando. Entre estes está o Sr. Vicente. Deus o tinha chamado através dos fracassos a esvaziar-se do seu projecto egoísta. E ele fez caso. Agora, por meio de acontecimentos aparentemente normais, O Senhor faz-lhe quatro grandes perguntas para o levar à plenitude da sua entrega.

9.1 “QUÊ REMÉDIO PODEREMOS PÔR”


A primeira pergunta a escutou em Gannes, em Janeiro de 1617, nos campos da região Francesa de Picardia. Vicente está na população mais perto de Foleville. Em Gannes há um homem muito doente com fama de virtuoso, e lhe pedem a Vicente que vá a ver-lho e confessar-lho.
Vicente chegou até a sua pobre casa, sentou-se ao seu lado e convidou-o a acolher-se à misericórdia de Deus, e a fazer uma confissão geral dos pecados da sua vida. Este homem não esperava ter um santo ao seu lado, e Vicente não esperava ouvir o que ouviu. Por vergonha e por hipocrisia, nunca se tinha confessado bem. Calava os seus pecados à hora da reconciliação sacramental com quem preenche uma folha com dados falsos, e assim até próxima vez. Anos e anos com a sua pesada carrega de pecado e dor no coração. Agora deus mexeu o seu coração e ele confio-lhe a sua vida, sem ocultar nada, através do sacerdote Vicente de Paulo. E não só isso, nos poucos dias que ainda teve antes de falecer, declarou o que antes ocultava por vergonha.
A Sra. Margarida de Gondi, também presente em Gannes, se impressionou muito ao ouvir aquilo e lhe disse ao Sr. Vicente: “o que é que acabamos de ouvir? Com certeza Isto mesmo acontece com coma a maior parte desta gente. Ai, Senhor Vicente, quantas almas se perdem! Qual é o remédio que devemos pôr?”.
“Qual é o remédio que devemos pôr?”. Vicente escutou a pergunta que Deus lhe dirigia por meio deste acontecimento e das palavras de Margarida de Gondi. Onde outros teriam sabido reconhecer os sinais, ele, porque estava atento, soube escuta-los e decifra-los. Em diante a sua vida a as suas obras serão a resposta. As missões populares dirigidas principalmente aos pobres camponeses, a fundação da Congregação da Missão e a lição da confissão geral foram a sua resposta pontual e específica a esta pergunta. Mas esta espalhar-se-á por meio de outras muitas e variadas obras.

9.2 ESTÃO DOENTES E COM FOME


Estamos ainda no ano de 1617, mas num outro cenário que já conhecemos, em Chatilhão-les-Dombes. É já o mês de Agosto, Domingo, dia 20. Uma elegante Senhora chamada Francisca Baschet, entra à sacristia antes dá Missa e lhe comunica ao Senhor Vicente que lá fora do povo há uma família na qual todos estão enfermos e desatendidos. O quê podemos fazer Senhor Vicente? O quê podemos fazer? Vicente Responde com que tem, com o seu amor e a sua palavra. E na homilia da missa, mexeu a compaixão dos ouvintes. Estes, só saíram, foram as suas casas a buscar ajudas e saem de imediato para socorrer à família enferma. Também vá Vicente e vê a procissão de ajudadores que vão e vêm, e vê e consola aos enfermos. No caminho Vicente reflecte e diz-se: Hoje tem recebido provisões de sobra, parte delas estropear-se-ão e amanhã estarão como antes. Quanta caridade, mas que mal organizada!” O quê podemos fazer?.
Três dias depois é 23 de Agosto de 1617 – O Senhor Vicente se reúne com um grupo de 12 Senhoras da população para dar resposta à pergunta. Vicente, atento tinha escutado a pergunta que Deus lhe fazia por meio deste acontecimento. E Vicente las convida a meter-se em um projecto apaixonante e perfeitamente organizado. Tratava-se de constituir uma nova associação para assistir aos pobres enfermos do lugar. O grupo de Voluntárias começaria ao dia seguinte. Em ordem, uma cada dia, acudiriam a visitar, alimentar e cuidar aos pobres enfermos. Francisca de Baschet e Carlota de Brie foram elegidas como animadoras do grupo.
Nascia a primeira das caridades que, com o tempo semeariam o solo francês de amor organizado em favor dos pobres. Alguns anos depois, em 1633, enraizadas nas caridades, nasceriam as filhas da caridade, obra grande e conjunta do Sr. Vicente e de Luisa de Marillac. E com elas e os missionários, nascia a obra das escolas populares, a atenção aos Galeotes, o cuidado das crianças abandonadas, os hospitais, a atenção aos soldados e feridos, a assistência aos enfermos dementes, as campanhas organizadas para socorrer às vítimas das continuas guerra e outros muitos trabalhos.

9.3 MONTMIRAIL E OS PASTORES EGNORANTES

Terceira pergunta, estamos em 1620. Vicente e os seus companheiros dão uma missão em Montmirail, e a gente participa entusiasmada nos actos de evangelização, na explicação da obra de Jesus Cristo, do Credo, do Pai Nosso, dos Mandamentos, da confissão e dos outros sacramentos. Além disso, há uma parte da população que não é católica e confessa-se protestante. Margarita de Gondí tinha casa nesse lugar e havia três destes hereges que pareciam dispostos à conversão. Agora encarrego-os ao Pe. Vicente, para que durante estes da missão, instruíra-os nas verdades da fé católica. Assim o faz ele com carinho, dedicando-lhes duas horas cada dia. Não demoraram dois deles em se retractar dos seus erros e aceitaram a fé católica. O terceiro foi mais difícil e colocou-lhe a Vicente uma objecção prática. “Eu não posso crer que a Igreja Católica esteja dirigida pelo Espírito Santo. Os católicos do campo estão abandonados em mãos de pastores viciosos e ignorantes, que não conhecem as suas obrigações e que nem sabem sequer o que é a religião cristã. As cidades estão cheias de sacerdotes e de freires, enquanto estas gentes do campo encontram-se numa ignorância terrível, pela que se perdem. E quer Você convencer-me de que isto está sob a direcção Espírito Santo? Não posso acreditá-lo”.
Este homem falou a Vicente de algo substancial. A Igreja há-de viver o credo e o serviço aos pobres. Como poderia conservar um sem o outro? Como poderia viver-se o primeiro mandamento sem o segundo? È isto o que queria o Espírito Santo que anima à Igreja? Uma Igreja que não servira aos pobres seria a sua Igreja? Mas, além da sua objecção, este homem falou-lhe a Vicente dos conjuntos interrelacionados: o povo simples o os seus sacerdotes e pastores. Os uns estão mal por culpa dos outros. Quê remédio pôr? O Sr. Vicente conhecia a realidade de estes dos conjuntos. Sabia das misérias do povo, do seu abandono, exploração e ignorância religiosa, e sabia das misérias do clero, da sua ignorância, dos seus vícios e do seu desleixo pastoral. Os. Vicente com as missões evangelizadoras, estava a responder à primeira parte, a correspondente à ignorância do povo, mas como responder à segunda parte, à situação do clero? O herege converteu-se no ano seguinte, em 1621, durante outra missão dada na população mais próxima de Marchais. Ao ver a amorosa simplicidade dos missionários com o povo, a sua forma de via, o seu trabalho e o seu zelo, foi ver a Vicente e disse-lhe: “Agora vejo que O Espírito Santo guia à Igreja de Roma, já que se preocupa da instrução destes pobres das aldeias. Estou disposto a entrar nela quando você queira receber-me. Não eram as teorias que o tinham convencido, eram as obras evangélicas dos missionários. Por tanto teria de fazer alguma coisa para que também o clero da França fosse reformado a fim de atender as necessidades do pobre povo.
Ao obras de Vicente que deram resposta a esta pergunta -nascida do herege, e nascida antes da sua própria experiência em Chatilhão e nos diversos lugares que missionava- não tardaram em concretizar-se. Apareceram os exercícios aos ordinandos, a criação e direcção dos seminários, as conferências das 3ª feiras para os sacerdotes e a selecção dos Bispos mais zelosos através do real conselho de consciência no qual Vicente teve uma grande influência.

9.4 IREMOS DE BOA VONTADE A ESES PAÍSES


Ai! Senhor Vicente, como tu e os teus já não poder abranger tantos trabalhos, ainda pedem mais. Assim acontece de ordinário na vida: não lhes pedimos ajuda aos que nada fazem, pois sempre nos dirão que têm muitos afazeres (têm tudo por fazer!) Se a pedir-mos aos serviçais e ocupados e estes sempre buscam um tempo par nos dar a mão. E agora em 1640, a voz da Providência chama de novo às tuas portas, desta vez não é Margarita de Silly, nem Francisca Baschet, nem o herege de Montmirail quem faz de porta voz do Seus dos pobres, é um estrangeiro, e um Monsenhor, secretário de “Propaganda Fide”, chamado Ingoli, quem te formula a pergunta da parte de Jesus Cristo. Fê-lo com simplicidade solicitando dois missionários para as missões estrangeiras. Mas essa simples petição tem no fundo uma grave pergunta de Deus para ti e para a tua Congregação. Estão dispostos tu e os teus, a ir a outras partes da terra, para levar a Boa Notícia a fim de que “todos os povos sejam os meus discípulos”? A Igreja é católica, é dizer universal, é para todas as gentes, não só para os Europeus. E o Senhor Jesus disse-nos: “Vão por todo o mundo e anunciem a Boa Notícia a toda a criação” (Mr. 16,15).
Ao pouco tempo de receber a proposta do Monsenhor Ingoli, escrevestes que a recebias domo vinda da parte de Deus” e que “faremos tudo o possível por aceita-la”. E, depois na celebração da Missa, “tenho-lhe –dizes - oferecido à sua divina majestade a nossa pobre companhia para ir a onde a sua santidade nos ordene”. Y acrescentas que “esta pequena companhia tem-se educado na disposição de que, deixando tudo, quando queira a sua Santidade envia-la a esses países, irá de boa vontade. Além disso, tinha o pressentimento de que, dadas as percas actuais devido às heresias e os costumes corruptas “dentro de cem anos perderemos a Igreja na Europa”, e Deus há-de traslada-la a outros continetes.
E sem demora em ondas sucessivas , os teus missionários partiram a Tunez 1645; Argelia 1646 e Madagascar em 1648, (onde ainda trabalham no nosso século). Além dos outros Países necessitados, omo Escocia , Irlanda e Polonia.
E as dificuldades de viagens, de meios, de perseguições foram grandes. Alguns morreram por assistir aos contaminados pela peste. O Padre Le Vacher e o Irmão Francillon, foram brutalmente martirizados. Mas mais de mil e duzentos escravizados pelos Turcos foram liberados e mais de um milhão de libras foram enviadas por meio dos missionários por ele enviados para o resgate de escravos. Dezoito missionários foram enviados a Madagáscar nestes anos, os oito que conseguiram chegar faleceram ali rapidamente. Mas em nenhum momento lhe faltaram missionários voluntários e dispostos a substituis aos falecidos.
Um dia falava-lhes aos missionários: “será um bom exercito aquele que por ter perdido mil ou três mil ou cinco mil homens (como dizem que aconteceu no último ataque a Normadia), o abandonasse tudo? Bonito seria ver um exercito de esse calibre, que foge e busca a comodidade! ... Pois o mesmo havemos de dizer da Missão. Eu acho que na Companhia não há quem tenha tão poucos ânimos que não esteja disposto a ir a ocupar o ligar dos que tem falecido”. E de facto assim foi. Nunca faltaram os voluntários para estas missões.
Muito outros dos seus melhores amigos morreriam nas missões, alguns também perseguida Irlanda. È por acaso uma desgraça –Dirá S. Vicente – que a esposa se reúna com o esposo ou que o marinheiro chegue ao porto? Vicente, também escrevias: “são bem aventurados aqueles que podem cooperar na extensão da Igreja em outros lugares”. E acrescentavas: “A nossa vocação é ir a todo o mundo. Para fazer o quê? Para inflamar os corações dos homens e mulheres a fim de fazer o que fez o filho de Deus”.
Aquela obediente resposta de são Vicente e os seus primeiros missionários, tem continuado a crescer com força. E muito rápido as FILHAS DA CARIDADE E AS VOLUNTÁRIAS DA CARIDADE, foram levas ao amor feito serviço aos pobres pelos distintos Continentes. Hoje as Filhas da Caridades trabalham em 94 Países, e os missionários em 86 Países. Porém, ainda fazem fala muitos trabalhadores, pois os pobres se multiplicam cada dia e o Senhor segue chamando a mais operários. A Providência perguntava ao Sr. Vicente por meio dos acontecimentos. Ele escutava, orava, discernia, pedia conselho e respondia. Não se adiantava à Providência mas também não se retraçava em responder-lhe como amor das obras. E muitos operários, atraídos pelo amor destas obras de Vicente, somam-se-lhe –ontem como hoje – e colam-se na sua Congregação ou nas Filhas da Caridade ou nos grupos de voluntários nos diversos Países.

10. OS POBRES PAGAM O MELHOR VENCIMENTO


A vinha do Senhor é o cuidado e a evangelização dos pobres. E o Sr. Vicente tinha uma grande capacidade para cativar a outros nesta tarefa divina. A França do seu tempo estava cheia de necessidades. Homens, Mulheres, sacerdotes, gente da nobreza e gente simples, jovens e velhos, religiosos, Bispos e leigos, letrados e iletrados, venham também vós a trabalha à minha vinha, os pobres lhes pagarão o melhor salário. Os tirarão do seu aburguessamento, de uma vida debruçada sobre ela mesma, das viagens por volta do seu ego, de uma religião professada oficialmente mas não vivida. Venham à minha vinha, à hora primeira da sua vida e à hora decima primeira! E milhares e milhares responderam ao chamamento de Vicente e das suas obras. Uns consagraram a sua vida inteira ao serviço, outros deram os seus dons e o seu tempo, outros os seus bens, outros a sua influência, outros e outras os seus amorosos cuidados e o seu sacrifício perseverante pela causa dos pobres. E ninguém ficou defraudado de se ter entregado. Era necessário levar o Evangelho aos que têm direito a ele antes que a ninguém, era preciso assisti-lhes nas suas necessidades, ajuda-los com educação, ofícios e instrumentos para que pudessem sair da sua pobreza, era preciso opor-se aos poderosos que decidem a guerra e fabricam novas pobrezas, era preciso que também eles ajudaram a outros pobres para a comum libertação. E Vicente convidava a todos, ninguém ficava na margem do seu contágio.
Vamos olhar para uns poucos casos de esta chamada contagiosa de Vicente. Ele já tinha experiência sara a quem o faz. Os pobres se convertem nos melhores médicos. Curando as suas feridas, curam-se as nossas. A Vicente o libertam os pobres – Deus neles – de ser um sacerdote vulgar. Não fariam o mesmo com os demais?

10.1 FRANCISCA DE BASCHET E CARLOTA DE BRIE

Já conhecemos os seus nomes. Os encontramos antes de falar de Chatilhão. Foram eleitos como presidenta e como administradora das primeiras caridades. Vicente de Paulo teve um especial interesse em que as mulheres participaram com todas as suas qualidades no trabalho da Igreja. Sem o seus dons a Igreja ficaria mutilada. E as colocou no caminho mais seguro, que era também o seu, pelo caminho do serviço aos pobres. Assim fê-lo, por exemplo, com Margarida de Gondi, Luísa de Marillac, a Sra. De Goussault, a Rainha de Polónia Maria de Gonzaga, a Duquesa de Aiguillon, a Sra. Du Fay, as Filhas da Caridade e milhares mais de outras mulheres, entregadas e admiráveis. E elas lhe responderam ao Sr. Vicente “com ardor e com firmeza”.
Quem era Francisca de Bachet Carlota de Brie? Eram duas jovens Senhoras, elegantes, atractivas, extrovertidas, gostavam dos enfeites mais caros, dos bailes e de exibir a sua beleza. Viviam pendentes de si mesmas, com fome de boa imagem, inseguras e necessitadas da admiração dos outros para se sentir vivas. Jamais tinha sido convidadas a trabalhar na vinha do Senhor. Mas agora está em Chatilhão o Sr. Vicente e se encontram com o seu amor contagioso. Têm visto como vive, como trabalha, como ama igualmente a calvinistas que a católicos. Têm visto como se entrega sem reservas e como os pobres são os seus predilectos. E convidadas por ele, entram a trabalhar na vinha do Senhor. E apreendem dia após dia a cuidar os enfermos, a servir-lhes a comida, a limpar as suas habitações, e consolar-lhos com feitos e palavras de Jesus Cristo. Foram as animadoras de aquela associação de Caridade que tantos bens partilharia. E os pobres, Deus pelo seu meio, as curaram das suas antigas inseguranças, dependências e vãos anseios de boa imagem. Começaram a serem elas mesmas, mulheres novas. Talvez outras, no lugar do Sr. Vicente, as teriam julgado e não teria precisados de elas. Mas ele as convidou a trabalhar na vinha. São tantos os pobres, tantas as suas necessidades, que ninguém está excluído desta divina tarefa de se por ao seu serviço. Todos estamos convidados!.

10.2 O CONDE DE ROUGEMONT TINHA UM PROBLEMA

Lhes apresento O Conde de Rougemont. Rico, forte, amável, esperto no manejo da espada, sensível perante os mais leves agravos, teimoso e vingativo. A luta é a sua paixão. A quantos terá mandado embora deste mundo com a sua espada? A quantos terá mutilado? Mas a Chatilhão chegou este sacerdote chamado Vicente de Paulo e as suas assanhas estão na boca de todos. E o Conde tem sentido o seu estilo de vida ameaçada. E não porque o Sr. Vicente o vituperado em público. Pelo contrário o Conde sente-se atraído por ele e pelas suas obras. E um dia se decide a ir visitar ao Sr. Vicente é mais arriscado que ir às Vegas a jogar-se os dinheiros. Com ele sempre se perde, é dizer sempre ganha-se a vida. E o trato e a palavra de Vicente – Deus pelo seu meio – transformaram a este “gentilhomem”, levaram-no da mão a Jesus Cristo e aos pobres. O historiador José Maria Romão, diz, na sua biografia de São Vicente, que a conversão do Conde “foi tão rápida como as suas estocadas, e não menos espectacular”. Vendeu as suas terras e dedicou o valor obtido a socorrer aos pobres e em ajudar a levantar algum mosteiro. Quis também vender o castelo que tinha em Chandré, mas como o Sr. Vicente o desaconselhou o transformou em hospital e asilo de enfermos pobres a os que ele mesmo servia. De tudo foi-se desfazendo em favor dos necessitados. Hoje graças a sua conversão a Jesus Cristo nos pobres lembramo-nos dele. Fez-se um homem de oração, de meditação sobre a Paixão do Senhor perante o Sacrário. E um dia tomou conta de que tinha um problema. Examinando-se, passou revista “aos seus negócios as suas amizades, a sua reputação e a sua grandeza , os pequenos entretenimentos do seu coração humano, pensa, reflecte, medita e finalmente fixa-se na sua espada. Porque a levas?, pensou. Poderias passar sem ela? Sem esta espada que me tem salvado de tantos perigos? Mas também é verdade, que se surgir algum agravo, tu não terás o valor da não usar e destra maneira ofenderias a Deus. Meus Deus, o que vou fazes?, Diz-se, é possível que trave o meu coração este instrumento da minha vergonha e do meu pecado? Não encontro nenhuma outra coisa que me tenha atado mais do que esta espada, seria um cobarde se não me desprender dela. E nesse momento viu uma pedra grande, desceu do cavalo, e tris tras, rompeu-a, fê-la pedaços e foi-se embora.
Assim cintava Vicente aos seus, muitos anos depois o problema que tinha o conde de Rougemont e a solução que tinha encontrado. “E disse – acrescenta são Vicente – que aquele acto de desprendimento, ao romper a espada que o tinha preso, lhe deu uma liberdade tão grande que já nunca esteve atado pelas coisas perecedoiras” Jesus Cristo e os pobres o libertaram do seu medo, das suas vergonhas de se perder nas lutas inúteis e vãos prestígios de grande espadachim. Começou a ser um homem livre e novo. Teve a experiência como o Sr. Vicente perante a tentação de colar-se à família, de que nunca somo demasiado drásticos contra aquilo que nos impede o seguimento de Jesus Cristo. E, antes o depois, tal vez todos podemos entender que “há alguma espada” o alguma coisa a que estamos atados, colados, ou alguma coisa que mais que possui-la, possuem-nos. Quando Zaqueo, se libertou das suas ataduras e se determinou em dar os seus bens aos pobres e a os retribuir do que lhes tinha roubado, Jesus disse-lhe: “Hoje entrou a salvação a esta casa”.

10.2 DE COMO MARGARIDA APREENDEU A LER


Margarida, de apelido Nassau, era uns 14 anos mais nova que Viente de Paulo. Tinha nascido em Suresnes, uma aldeia vizinha de Paris, que tinha por volta vinhedos, terras de cultivo campos para o gado. A Sra. Denise, a sua mãe, morreu quando Margarida ainda era criança de poucos anos. Ela e o seu Pai, o Sr. Lefroy, tiveram que trabalhar duro para que a família adiantara. Margarida e parte das suas labores caseiras, cuidava as vacas, era a vaqueirinha de Suresnes. Não teve a oportunidade de ir à escola. Quando ainda era jovem, encontrou-se com o Sr. Vicente de Paulo e pôs-se sob a sua direcção. Por ele sabemos dela. Amo-a como um pai ama à sua filha, como se ama a água porque é pura e serviçal e reflecte o céu. Ela foi a primeira filha da caridade, “quem teve a graça de amostrar o caminho às demais”. São Vicente fala-nos de Margarida muitos anos depois de que ela fosse à missão do céu. Tinha falecido em 1633, contagiada por uma doente a quem tinha socorrido. Era a sua maneira de terminar uma vida de criatividade e de entrega, “pois ninguém tem mais amor que aquele que dá a sua vida pelos seus amigos”.

Mas, quem era, como era, o que fez esta vaqueira de Suresnes? Ela é um poema do amor e da alegria de Deus. A ela que nem sabia ler, chamou-a a ensinar aos outros. Mas, como, Senhor, não tens a outros e outras capacitados para esta tarefa? Margarida não se desculpou. Não lhe disse, “não sei”, “não posso”, “não tenho tempo”. Pós-se mãos à obra. “Comprou um alfabeto e, como não podia ir à escola a apreender, foi pedir ao Sr. Padre da Paróquia que lhe disse-se quê letras eram as quatro primeiras; outra vez perguntou sobre as quatro seguintes, e assim com as demais. Logo em quanto guardava as vacas, estudava a lição. Se via alguém com aspecto de saber ler, perguntava: “Senhor, como tenho que pronunciar esta palavra?” E, assim, aos poucos, apreendeu a ler”. O Senhor Vicente dizia que “o amor é infinitamente inventivo” e sabia que quem ama, inventa e se diverte criativamente; quem não ama, fica magoado e perde tempo nas dificuldades.
Mas, Margarida não buscou estudar e aprender a fim de saber mais, de ter um melhor trabalho ou de presumir diante das outras jovens da sua aldeia. Amava aos pobres que, como ela, não tinham a oportunidade de ir a escola. Margarida estudava, para dar aos demais o que apreendia. “Quando já tinha alguns conhecimentos – conta-nos São Vicente – sentiu a devoção de o ensinar aos demais, e veio a buscar-me aonde eu estava missionando. Padre – disse-me – eu tenho apreendido a ler desta maneira, tenho muita vontade de ensinar a outras jovens do campo que não saibam. Lhe parece bem? Desde logo – disse-lhe – eu lhe aconselhei que o faça”. E primeiro em Suresnes, depois em outros povos próximos, Margarida dedicou-se a alfabetizar e a instruira jovens e crianças. E formou a outras jovens e contagiou-as do seu entusiasmo, e “uma se dirigia a uma aldeia e outra à outra”. “E começou isto sem dinheiro e sem mais provisões que a Providência”. Alguns anos depois e animada pelo que o Sr. Vicente lhe tinha contado sobre o serviço aos enfermos, foi a Paris a servi-los e cuida-los, a limpar-lhos e leva-lhes a comida as suas casas. Luísa de Marillac tomou-a sob a sua direcção para lhe ensinar “a maneira de como servir aos pobres enfermos”. E ela apreendeu rapidamente a ser una boa enfermeira e ser a criada dos pobres. São Vicente resume o perfume de esta Margarida dizendo-nos. “Todos a amavam, pois não havia nela nada que não fosse amável”.

11. AS CRIANÇAS ABANDONADAS.


As sociedades lançam justificações políticas e ideológicas, para esconder as sua corrupção. Assim se sentem mais a vontade. A sociedade francesa do século XVII não a excepção. Entre o brilho político e cultural do Rei Luís XIII e Luís XIV, de Richelieu, ;azarino, Montaigne, Descartes, Pacal, Corneille, Moliére, e tantos outros ilustres contemporâneos de São Vicente, uma das piores era o abandono das crianças abandonadas. Nessa época, em geral não os assassinavam por meio do aborto, mas sim eram muitos os abandonados nas portas das igrejas e nas ruas. Hoje numa sociedade mais cruel, usam-se os dois métodos: o aborto e o abandono. Muitas das nossas cidades e aldeias, estão cheias de “crianças da rua”. O quê fazer perante este triste problema?
Vicente de Pulo dizia: “O nosso Bondoso Salvador Disse, Deixem que as crianças se aproximem de mim”, Podemos nós abandonar-lhos sem o abandonar a Ele?” E numa dramática reunião, em Dezembro de 1649, com a damas da Caridade em Parias dizia-lhes: “a vida a morte destes pequenos estão nas suas mãos. Vou recolher os votos e os sufrágios. Chegou a hora de pronunciar sentencia. Se Vocês vão continuar a encarregar-se deles, viverão. Se o abandonam, morrerão. A experiência não nos permite duvida-lo”.
A atenção a estas crianças por parte de Vicente e a sua gente tinha começado a organizar-se por 1638. As filhas da caridade foram as principais heróis, as damas ajudaram com os seus recursos materiais, Vicente e os seus missionários puseram a sua alma e a sua animação e também os seus bens materiais par que esta obra seguira adiante. Para o conseguir era preciso em primeiro lugar, combater os prejuízos e as divisões ideológicas que justificavam o abandono. A sociedade dizia que eram filhos do pecado e da imoralidade, e que “Deus tem condenado a muitas dessas criaturas por causa do seu nascimento, e que tal vez por isso não permite que não tenha remédio esta situação”. O que eles diziam com este pensamento era: deitemos-lhe a culpa a Deus e lavemo-nos as mãos. São filhos ilegítimos. As vítimas são os culpados. Vicente pensava que em todo caso, haverá pais ilegítimos, mas não filhos ilegítimos, e que “tomar conta de estas criaturas é fazer a obra de Jesus Cristo”.
E ao longo dos anos, milhares de estas crianças, meninos e meninas, foram recolhidos, cuidados, educados depois nas primeiras letras e mais tarde em ofícios úteis e dignos. E Vicente e os seus fizeram – e continuam a fazer – esta “obra de Jesus Cristo”.

12. OS FORÇADOS DA MARIHNA REAL

A armada do Primeiro Ministro Richelieu, que se empenhava, como as outras ramas do exercito, em conseguir a supremacia do domínio europeu, necessitava de braços para mexer os remos dos barcos de guerra. As máquinas de vapor ainda não tinhas sido inventadas. Este trabalho faziam-no os chamados galeotas, homens condenados por qualquer mínimo delito e forçados logo por anos a esta labor de escravos. O Sr. De Gondi, amigo de São Vicente, era o geral das Galera e, por isso, dos galeotas. Por esta ração, desde 1619, encarregou a Vicente o ofício de Capelão dos galeotas. .
Durante vários anos o que conseguiu fazer em seu favor não foi muito. Havia outros encarregados e surgiam problemas de jurisdição e competência. Mas Vicente ia vendo a terrível situação em que estavam e escutava a voz de Deus através desta situação. Eram maltratados e golpeados com vestias. Em quanto estavam no cárcere, só comiam pão e água. Quem tomava conta da sua fome, das sua enfermidades, dos seus maus tratos, da sua evangelização e lhes buscara condições dignas de seres humanos? Alguns faziam algo, a outros muitos parecia-lhes normal que as coisas seguissem com estavam.
E, em quanto foi possível, Vicente empenhou-se neste trabalho como o fazia nos outros: com todo o seu amor, o seu empenho, a sua capacidade de contagio, o seu atrevimento e a sua corajosa perseverança. Com meios materiais, com influências, com o evangelho. Luísa de Marilhac, as suas Filhas da Caridade e os Missionãrios puseram nesta tarefa toda a sua paixão.
Vicente organizou missões para os galeotas, pôs ao seu cuidado as Filhas da Caridade, conseguiu com outros que se construíra um novo hospital em Marcella para os atender, fundou ao seu lado uma casa de missionários dedicados aos galeotas, humanizaram-se as condições de vida e de trato, se lhes facilitou a comunicação com a sua família. Em poucos anos, graças a São Vicente, tinha passado do inferno ao purgatório. Não se podia fazer mais nessa época. Mas fez-se tudo o que era possível fazer.

13. “OS POBRES SÃO O PESO E A MINHA DOR”




Não acabaríamos de enumerar a diversidade de pobres e as suas pobrezas que Vicente assumiu como algo próprio. Já sabemos que há muitos contrario à esmola. São os que não precisam e os que não querem compartilhar. Por isso justificam-se apelando a outra revolução. Mas o pobre que tem fome, que está enfermo, que vá ao cárcere sem ninguém que lhe ajude a pagar uma pequena divida, não pode esperar à sonhada revolução. Por isso Vicente que sabia as urgências dos pobres, não só buscou a educação e a promoção dos pobres, não só pôs-se em contra dos políticos que com as suas decisões fabricavam mais pobres e os deixavam sem nada, também foi um grande gastador de esmolas em favor deles.
Paris e outras cidades estavam cheias de pobres que pediam esmola, dementes, mulheres em venta, mutilados e bandas organizadas dispostas a fazer o que fosse para conseguir sobreviver. A sociedade boa (os de mais encima) lhes tinha medo. Sentiam-se na insegurança com tanto pobre. Os políticos escreveram centos de leis contra os mendigos e os seus protagonistas. Eram leis inúteis. Os exércitos franceses venceram a muitos inimigos internos e estrangeiros. Mas a sociedade não era capaz de acabar com a pobreza. Vicente e os seus, com instituições, escolas, asilos, Evangelho, esmolas e muita organização, recuperaram para a dignidade e a vida a centos de milhares de estes pobres, vítimas de uma má estrutura económica, do abuso das guerra, dos impostos exagerados, das más colheitas do campo e da instabilidade da moeda. E quando aos políticos pensaram em desenhar umas líneas que puseram remédio, isto consistia em encerrar aos pobres à força numa imensa instituição. Já sabemos quanto são capazes de pensar os políticos de mais encima! São Vicente opôs-se a este teatro de falso remédio. A esta actuação hipócrita. E opôs-se porque compreendia a dignidade dos pobres, a liberdade e o seu direito a não serem forçados a viver neste tipo cárcere. A derrota desta pobreza não se soluciona limpando os pobres da rua (para a tranquilidade dos ricos) mas acabando com as causas da pobreza.

14. OS DANIFICADOS DAS GUERRAS

“Joana, não tardarás em dar-te conta o pesado que é levara a caridade, muito mais do que levar a jarra de sopa e a tigela cheia...
Mas conservarás a tua doçura e o teu sorriso.
Não é tudo distribuir a sopa e pão. Isso os ricos podem faze-lo. Tu és a insignificante serva dos pobres, a filha da caridade, sempre de sorriso e bom humor. Eles são os teus patrões, patrões terrivelmente susceptíveis e exigentes, já verás.
Por tanto, quanto mais repugnantes sejam e mais sujos estejam, quanto mais injustos e injuriosos sejam, tanto mais amor deves dar-lhes tu....
Só pelo teu amor, pelo teu amor unicamente, te perdoarão os pobres o pão que tu lhes dês”.


A guerra que tem sido a especialidade dos políticos e poderosos, tem sido carga sempre para os pobres. Pobres soldados recrutados por um vencimento miséria. E pobres populações arrasadas pelos exércitos, roubadas, saqueadas e deixadas cheias de esfomeados, de mendigos, de enfermos, de feridos, de mulheres violadas e de milhares de milhares de deslocados sem recursos de nenhuma espécie. França esteve em guerra continua (interior e exterior) praticamente desde 1917 até poucos meses antes da morte de São Vicente.
A região da Lorena foi cenário bélico entre os exércitos imperiais e os franceses e suecos. Mais de 170 mil homens dedicados a matar-se e a fabricar novos pobres. Uns doze anos de duração. São Vicente além de se entrevistar com Richelieu para parar a guerra sem consegui-lo. Organizou o socorro às populações devastadas. Investiu em moeda actual, o equivalente a 28 milhões de dólares. De onde os tirou? Do amor que chama a todas as portas e organiza os corações e as mãos, Vicente inventou uma espécie de jorna – “s relações”- para fazer consciência na população sobre as necessidades. Feridos, deslocados, mendigos, Igrejas profanadas, campos de refugiados, a mão de são Vicente e da sua gente chegou a todas as partes, a toda classe de pobres. O irmão Mateu Regnar, disfarçado de um que vive de esmolas, transportou milhares de escudos em umas 53 viagens com socorros. Os missionários e outros centos de colaboradores de São Vicente envolveram-se directamente em tudo este trabalho.
Mas a guerra aparece novamente e continua entre os exércitos franceses e os espanhóis. A Paz dos Pirineus assinar-se-á tão tarde como em 1659. Não só Champanha e Picardia foram cenários devastados, os exércitos espanhóis chegaram às portas de Paris. E ambos os dois exércitos eram inimigos das populações. Ambos os dois as arrasavam com igual avareza e violência. E Vicente e os seus, tiveram que empreender toda classe de ajudas acender com as suas “Relações” a consciência de todos para encontrar remédios.
O mesmo acontecerá com a outra guerra dentro da Guerra: a Guerra civil francesa conhecida como a guerra da Fronda, e as contínuas sublevações camponesas que sucederam-se de 1623 a 1648. o primeiro ministro agora já é Mazarino, tudo submetia à grandeza do Estado; mas a sociedade estava cansada, desfeita e in conforme frente a uma monarquia a um passo da Ditadura. Os Parlamentários, os Príncipes e os Nobres, sentiram-se justificados para revelar-se. Grande parte do povo os seguiu. E a guerra civil continuo por anos e anos. E, no meio de tantos desastres, ali está Vicente entristecido pela sorte dos pobres opondo-se ao poderoso Mazarino, contraindo dívidas ele e os seus em grandes quantidades e buscando outras novas para remediar a urgente necessidade dos pobres. Ler as suas aventuras de caridade no meio da guerra, narradas pelos historiadores, é espantar-se uma vez mais da sua criatividade, de que na verdade “o amor é infinitamente inventivo”. Socorros monetários, viveres, sementes para semear e ferramentas de trabalho... de tudo conseguiram Vicente e os seus colaboradoras e colaboradores para os levar até as vítimas da guerra.
O “Pai dos pobres” com lhe chamou o povo, foi-o a níveis in imagináveis de profundidade, de extensão e de eficácia. “Os pobres que não sabem a donde ir nem o que fazer, que estão a sofrer, que cada dia são mais, é esse o meu peso e a minha dor”, dizia.

15. A ALMA E OS PÉS DE VICENTE DE PAULO.


Não temos contactado nas páginas anteriores nem o dois por cento da vida de São Vicente. Somente são como um humilde átrio de entrada a fim de nos sentirmos cativados a ir mais além. (Te recomendo que leias por exemplo, “São Vicente de Paulo, biografia”, de José Maria Román, e também, “Vicente de Paul, Biografia e Espiritualidade”, de Vicente de Dios. O Primeiro o podes conseguir na edição da BAC; o segundo é editado por Claveria em México).
Mas antes de concluir esta mini biografia, não podemos evitar algumas perguntas. Como foi possível? Como foi possível tanta profundidade e tanto serviço e tanta capacidade para contagiar e organizar a outros? Em que fonte o manancial bebeu Vicente de Paulo amor sem fronteiras, força serviçal e corajosa perseverança? “Amemos a Deus Irmãos meus, - dizia ele – mas que seja com o suor da nossa fronte e o esforço dos nossos braços”. Mas isso não nos é possível se não o apreendemos e o recebemos de Jesus Cristo. Ele disse-nos: “Sem mim nada podem fazer”. Jesus Cristo nos pobres e os pobres em Jesus Cristo são os dois pés da caminhada de Vicente, podem distinguir-se mas não podem separar-se. Nos salva Jesus Cristo, não nos salvam os pobres. Mas a garantia de que aceitamos a salvação de Jesus Cristo está na nossa partilha com os pobres. E ao fazer, eles nos unem mais a Jesus Cristo. Servir-lhos é o nosso culto de acção de graças. E esse culto se expressa e se alimenta também na Eucaristia. Jesus Cristo nos salva por meio do seu sacramento histórico dos pobres. Eles são os seus vigários. “Fazer na terra o mesmo que fez o Nosso Senhor, isto é fazer a vontade de Deus”. As feridas e as necessidades dos pobres são os santos lugares onde se encontra a pérola de grande valor.
Vicente de Paulo foi um apaixonado de Jesus Cristo. Dali floresceu a sua paixão pelo cuidado dos pobres, pelos “Cristos açoitados” da sociedade. Jesus Cristo é o sacramento de Deus. “Quem me vê a mim – disse-nos – vê ao Pai”. E os pobres são o sacramento de Jesus Cristo. “O que fazem com um destes mais insignificantes – aclara-nos – comigo o fazem”. Ou como dizia-o o Senhor Vicente: “Virem a medalha e descobrirão com as luzes da fé, que são estes os que nos representam o Filho de Deus”.
De Jesus Cristo recebeu e acolheu São Vicente o amor, a força e a perseverança no serviço. o seu primeiro biógrafo - Abelly -, garante-nos que Vicente: “Tinha o seu olhar fixo em Jesus Cristo, tudo o dizia ou fazia o moldava sobre o divino original. Tinha-se proposto a Jesus Cristo como o único exemplo da sua vida... de tal maneira que podia dizer-se na verdade, que a vida de Jesus Cristo, o seu Evangelho, era a única regra da sua vida e das suas acções”. E Vicente garante-nos que Jesus Cristo, “é o grande quadro invisível com o qual havemos de conformar as nossas acções”. Por isso habitualmente perguntava-se – e ensino-nos a perguntarmo-nos – “Senhor, se tu estivesse no meu lugar, o que farias nesta ocasião?”. E a vida de Vicente foi a fiel resposta a esta pergunta. Foi o bom samaritano apaixonado por curar as chagas da sociedade do seu tempo. Também nós o seremos da nossa?

16. QUANTO MAIS ORANTE MAIS ACTIVO


Ali, na oração, é onde Deus “ilumina o entendimento com tantas verdades incompreensíveis para todos os que não fazem oração; ali é onde reforça a vontade; ali é onde toma posse completa dos corações e das almas”. Assim o experimentou e o disse Vicente de Paulo. Ali é onde descobrimos o mundo segredo das nossas motivações. As obras que não estão animadas pelo amor de Jesus Cristo, disse-nos São Vicente, são como moedas falsas e sem valor”, “não estão feitas com o selo do Príncipe”.
Ouve, por acaso, em tudo o século XVII, alguém mais activo e comprometido que São Vicente? Além das suas obras e inumeráveis serviços aos pobres, às pessoas particulares e às congregações. Escreveu mais de 30 mil cartas e deu milhares de conferências. Quantos quilómetros percorreu ao longo da sua vis? A quantos dirigiu espiritualmente? E a quantos formou na fé e no crescimento humano? E, quantos milhões de moedas passaram pelas suas mãos sem ficar nelas? E este activo Senhor Vicente é quem nos diz que temos de “estimar e preferis a oração a qualquer coisa”, e que um alma sem oração “faz-se morna, fraca, sem força nem entusiasmo, fastidiosa para os demais e insuportável para si mesma”. E ele diz-nos: “dai-me um homem de oração e será capaz de tudo”. E “se temos êxito nas nossas tarefas é graças à oração”. “Havemos de acudir a Deus a fim de que não sejamos nós os que falemos nem os que actuemos, mas que seja Deus pelo nosso meio”. Um doutor que não tem mais que a sua doutrina, fala de Deus da forma que lhe tem ensinado a ciência, mas uma pessoa de Oração, fala Dele de uma maneira muito distinta. E é preciso que o doutor cale quando há uma pessoa de oração”.
Vicente de Paul nunca foi um teórico. Foi um homem de experiência. Um homem que reflectia com o seu Senhor os materiais da vida. O que ele nos diz não são teorias, é a descrição da sua experiência. Se assim nos falara da oração um monge enclaustrado ou um esperto na leitura dos místicos, poderíamos não crer-lhe: isso está bem para você que tem tempo, mas não para mim. Vicente fala-nos porque assim o tem experimentado. E não só teve tempo para fazer a oração, mas foi da oração de onde tirou o tempo para fazer tudo o de mais. Quanto mais orante mais activo, e quanto mais activo mais orante.

17. A FORMOSA DESPEDIDA


O dia 27 de Setembro de 1660, faleceu em São Lázaro aos 80 anos de idade Vicente de Paulo. O contexto político, social e religioso de Paris comocionou-se perante este acontecimento. Mas não só a capital francesa o Paris inteiro. De Roma chegava uma bênção especial do Papa, desde um longicuo lugar de África um homem de raça negra enviava plantas medicinais para curar as doenças já sem remédio do ancião sacerdote. As lágrimas não conheciam fronteiras geográficas, nem também sociais. A corte real, as damas da alta sociedade, a gente simples da beira do Sena. Os mendigos da rua, os Galeotes, os deslocados socorridos da guerra, todos expressavam um profundo sentimento de orfandade.
Vicente de Paulo tinha tido má saúde desde jovem. Tinha padecido de dor e inchação de pernas e de febres recorrentes, além disso tinha sofrido de asma, de tonturas, de hérnias e varias vezes tinha estado em perigo de morte. Com enfermidades e sem elas, nada lhe impediu dar-se completamente aos mais diversos trabalhos. Desde finais de 1958 se lhe agravaram as suas enfermidades crónicas. Teve de usas um bastão para caminhar e pouco tempo depois usou muletas. Um destes dias lhe disse a um dos seus missionários: “Há 18 anos que não me deito nunca sem me pôr em disposição de morrer essa mesma noite”.
Vicente seguia estes dias penúltimos com uma numerosa correspondência e ao frente de não poucos trabalhos e projectos. Mas a sus suas enfermidades agravavam-se sem remédio. No dai 26 de Setembro recebeu a unção dos enfermos. Passou essa noite acompanhado pelos seus entre jaculatórias piedosas. Abençoou, uma por uma as obras e instituições por ele fundadas e ao longo da sua vida. Despediu-se dos mais próximos e a sua última palavra pronunciada foi o nome daquele a quem mais queria: “Jesus”. E, ao amanhecer do dia 27 de Setembro, “partiu ao encontro do Seus do spobres” .
O Bispo que falou no seu funeral, disse com verdade que o Senhor Vicente de Paulo tinha mudado o rosto da Igreja. As suas obras seguem hoje vivas e atraindo a milhares de jovens e adultos à apaixonante vocação de servir aos pobres.
A cena seguinte ao seu falecimento ninguém a viu. Mas no céu, centos de milhares de pobres, sairão ao encontro de Vicente para dizer-lhe ao Senhor: “Este é aquele quem como seu efectivo amor e a sua bondade, ensinou-nos que Tu, oh Deus Nosso, és amor sem limites. Deixa-lhe que entre à festa sem limites da vida que És Tu”. E Deus o corou de felicidade para sempre.
E desde a casa do Pai, olha palha para nós São Vicente, e acompanha-nos e pergunta-nos: E tu o que fazes com a tua vida? A quem serves? A quem lhe ofereces como pão e como justiça e como Evangelho, a amorosa salvação de Jesus Cristo.

FRASES DE SÃO VICENTE DE PAULO

“O filho de Deus fez-se homem não só para que nós nos salvemos, mas também para que com ele sejamos salvadores”

“Jesus Cristo teve como trabalho principal assistir e cuidar aos pobres. Ele colocou-se no lugar dos pobres, até dizer que o bem o mal que lhes fazemos aos pobres considerar-lho-á como feito à sua divina Pessoa”.

“Ajuda aos – aos pobres – praticamos a justiça não a misericórdia”.

“Os pobres são os nossos amos e os nosso senhores”.

“Não tem de pensar que lhes devem algo – os pobres – pelos serviço feitos, mas pelo contrário, devem de convence-lhos que são vocês que lhes devem a eles”.

“Os pobres sãos os nossos intercessores diante de Deus”.

“Os amam aos pobres durante a sua vida, não terão medo à morte”.
“Somos culpados dos sofrimentos dos pobres se não fazemos tudo o que está nas nossas mãos”.

“Anunciar-lhes Jesus Cristo, dizer-lhes que está perto o Reino dos Céus e que esse Reino é para os pobres”.

“É entre eles, - entre os pobres – onde se conserva a verdadeira religião, a verdadeira fé”.

“Faz, Senhor, que na perseguição nos mantenhamos firmes, sem fugir nem dobrar-nos perante os ataques do mundo”.

“Olhai para o barrote que sustêm o peso do teto, sem ele o teto viria a baixo. Também Jesus Cristo tem-nos guardado em todas as nossas caídas, as nossas cegueiras e a nossa preguiça de espírito”.

“O que conhece as suas próprias misérias – conhecimento que é graça de Deus – compreenderá muito bem a obrigação que tem de suportar a todos os demais”.

“Se tivéssemos um pouco de esse amor – de Jesus Cristo – ficaríamos com os braços cruzados? Deixaríamos morrer a todos aqueles que podemos assistir? Não, a caridade não pode permanecer ociosa, mas move-nos à salvação e ao consolo dos demais”.

“Temos de humilhar-nos muito quando caímos, fazendo tudo o possível com a graça de Deus para levantar-nos e para impedir cair-mos de novo”.

“Não pode haver caridade se não vai acompanhada de obras de justiça”.

“Para as coisas de Deus, confio no meios humanos tanto como no diabo”.

“É necessário ser firma e inflexível no fim, mas manso e simples nos meios”.

“Não se fixe você no que você é, veja melhor ao seu lado e dentro de você ao nosso Senhor, disposto a lhe dar a mão em quanto você recorra a Ele, e já verá como tudo vá bem”.



PARA JOVENS INQUIETOS E CHEIOS DE ANIMO.
Gostarias de ser missionário, levar o Evangelho aos pobres e empenhar a tua vida em servi-lhos?

Solicita informes em: Padres Vicentinos

E PARA AS JOVENS ANIMOSAS E EM BUSCA DE VOCAÇÃO
Solicita informes em: Filhas da Caridade

Ou em qualquer dos coordenadores dos grupos da FAMILIA VICENTINA
Em Maputo:

Em Matola:

Em Xai-Xai:

Em Chonvgoene:

miércoles, 28 de marzo de 2007